terça-feira, 31 de maio de 2011

FEDRO, por Platão

"No diálogo 'Fedro', Platão expõe filosoficamente (através dos seus intervenientes, Fedro e Sócrates) a relação entre a palavra e o pensamento." Isto nos diz a capa deste livro, que é a primeira tradução portuguesa deste diálogo platónico sem deixar de ter atingido já a sexta edição.
Tudo começa quando Fedro, amigo de Sócrates, regressava da casa de Lísias (mestre da retórica e sofista que mais tarde ajudaria a condenar Sócrates ao envenenamento por cicuta) depois de este lhe ter oferecido um documento escrito no qual defende que se deve amar que não ama e não quem ama. Sócrates, curioso, interpela-o a ler o discurso de Lísias, procedendo depois à análise do mesmo. É de notar a habilidade de Sócrates em defender a teoria de Lísias e em contrapô-la, mostrando-se capaz de ver os dois lados da mesma questão. O diálogo termina com uma dissertação sobre a arte da retórica.
Dos diálogos de Platão que já li, este pareceu-me o mais acessível (ou já terei mais facilidade devido à força do hábito?). Seja como for, acho este diálogo de extrema importância para aqueles que pretenderem destacar-se na arte de bem falar, na medida em que é um documento vivo e intemporal que demonstra práticas retóricas que ainda hoje são leccionadas. É de leitura leve ao contrário do diálogo que apresentei anteriormente ("A República") graças ao seu estilo impessoal, sem deixar-se nunca perder a seriedade no tratamento dos assuntos e na sua redacção sendo, portanto, mais uma boa aposta para o leque de documentos platónicos traduzidos em português.

quinta-feira, 26 de maio de 2011

ARTE GREGA, por Michael Siebler

Não. O livro que vos apresento hoje não é um clássico grego ou latino; contudo, acho igualmente indispensável para aqueles que se interessam pela arte literária grega e latina saberem um pouco das restantes artes. Isto porque não poderemos saber apreciar uma obra sem conhecermos o seu contexto.
A forma de arte que se apresenta neste livro é a escultura e a cerâmica. É um livro muito acessível a nível de conteúdo e consta de uma sinopse da História da Arte da Antiga Grécia, seguida da exposição das obras de arte mais significativas da época. Para mais, poderemos notar que muitos dos ideais artísticos dos antigos gregos ainda são usados actualmente, acabando por ser também um retorno às raízes dos nossos fundamentos artísticos.

terça-feira, 24 de maio de 2011

DIÁLOGOS I - A REPÚBLICA, por Platão

Mais uma vez apresento o diálogo de Platão. Este é o primeiro volume de quatro e está dividido por dez livros que, nesta edição, se encontram na íntegra e compilados. O título deste volume é "A República" e trata temas como o sentido de justiça, a formação das cidades e a educação dos cidadãos, entre outros, temas esses que são analisados pelo mestre Sócrates e seus alunos Gláucon, Polemarco, Trasímaco, Adimanto e Céfalo. O curioso é que, apesar da sua antiguidade, cedo dar-nos-emos conta de que muitas das conclusões são compatíveis com os dias de hoje e mantêm a sua actualidade, pelo que considero uma leitura importante para aqueles que querem compreender muitos "porquês" da nossa sociedade actual. No entanto, fica um conselho: para quem não está familiarizado com estas obras deve primeiro procurar ler um diálogo mais curto ou, pelo menos, um excerto (como, por exemplo, a já apresentada "Teoria do Amor", excerto do diálogo "O Banquete"), pois a exposição dos temas pode apresentar-se um pouco densa devido ao estilo de escrita e forma como estes são apresentados.

terça-feira, 17 de maio de 2011

CARTA SOBRE A FELICIDADE, por Epicuro

Este é, sem dúvida, um pequeno livro que é grande em conteúdo. Ainda que originalmente endereçada a Meneceu, esta "Carta sobre a Felicidade" tornou-se, na verdade, num documento endereçado a todos nós. De texto simples e conciso e narrativa curta, esta pérola do pensamento antigo aborda sabiamente temas que perturbam o Homem através dos tempos, como a morte, o desejo e a sapiência.
Este livro, a par de ser o mais curto, é também dos melhores que já li e fico satisfeita comigo mesma por ter tomado a decisão de adquiri-lo num momento de dúvida e ocupa uma posição especial nas minhas estantes. Confesso também já ter prometido a mim mesma oferecê-lo nos próximos aniversários, não sob aquela velha desculpa de não saber o que oferecer (quantos de nós dão livros quando não se preocupam em procurar algo mais!) mas precisamente por saber que é um daqueles livros que devem fazer parte das leituras obrigatórias de uma vida. Possa este livro, para os que ousarem adquiri-lo, ajudá-los, como me ajudou a mim também; se ainda não em prática, pelo menos em espírito.

segunda-feira, 16 de maio de 2011

AS SUPLICANTES, por Ésquilo

Ésquilo, juntamente com Eurípides e Sófocles, é um dos três autores de tragédias da Antiga Grécia e o mais antigo cujas obras chegaram aos nossos dias, sendo que Eurípides é o mais novo.
A tragédia que apresento hoje intitula-se "As suplicantes"; tem como personagens o Rei de Argos, Dánaos, um arauto e o coro das Danaides, filhas de Dánaos e que, pretendendo fugir a um casamento forçado com os filhos de Egipto e para guardarem a sua virgindade pedem protecção ao Rei de Argos, Pelasgos.
É certo que, a ver pelo historial do meu blogue, pouco li ainda a respeito da literatura clássica; no entanto, se me for permitido à minha recente iniciação no tópico e apesar da falha em ainda não ter lido nenhuma tragédia de Sófocles, erro meu e sem descuidar de que o efeito das primeiras impressões é fulcral para o entendimento do mundo, creio já ter notado uma diferença abrupta entre as tragédias de Ésquilo e de Eurípides. Com isto não me refiro apenas ao espaço temporal que os separa, mas sim à sua autenticidade nos dias de hoje. Nas minhas leituras (que não foram muitas, possam os meus parcos dezoito anos se apenas uma parte do que lerei no futuro) concluí, sem que deixem de me dar uma qualidade duvidosa, que as tragédias de Eurípides são o protótipo das tragédias actuais devido à sua humanidade, às suas personagens mortais e simples e ao seu entendimento pelas paixões e receios humanos. É uma tragédia humanizada, que leva o leitor/espectador, por momentos, a sentir empatia com algumas personagens porque em algum momento da sua vida já passaram situações semelhantes, ou ainda raiva e asco a outras personagens, se não à mesma; isto porque na tragédia "euridipiana" (nem sei se esta palavra existe) não existem nem bons nem maus, apenas seres humanos com as suas virtudes e fraquezas, com as suas glórias e fracassos, que nos relembram que ser-se Homem é ser-se eternamente bipolar na conduta e no espírito. Por seu turno, a tragédia de Ésquilo apresenta um estilo mais declamatório e solene, apoiando-se em figuras de maior peso social e tendo maior preocupação em narrar a história; já Eurípides detém-se no momento, que não deixa de ser dinâmico devido ao rol de emoções experimentadas pela audiência. Poderemos, portanto, dizer que Ésquilo assenta no logos e Eurípides apela ao pathos.
Com isto não pretendo dizer que um autor é melhor que o outro, seria algo dogmático e a noção de Bem e Mal é algo que, após milénios de domínio da Humanidade, não houve homem capaz de definir em verdade. Apenas chamei a atenção para o que a minha pouca experiência me permitiu constatar nas minhas leituras. Cabe ao leitor destas obras, intemporais e especiais à sua maneira, tirar as suas conclusões e optar por aquela que lhe parece mais em conformidade com a sua verdade pessoal.

ARTE DE AMAR, por Ovídeo

O livro "Arte de Amar" do poeta romano Ovídio é, na verdade, constituído por três livros, sendo os dois primeiros endereçados ao público masculino e o terceiro ao público feminino. Estes estão escritos em verso e têm como objectivo ensinar aos seus leitores a arte da sedução, tendo por isso um carácter informativo e erótico, tanto que podemos ver a "Arte de Amar" quase como um manual do amor e no qual poderemos reconhecer muitas das ideias apresentadas por Ovídio ainda como da sociedade contemporânea.
Considero a "Arte de Amar" de Ovídio um livro de sumo interesse pelo seu valor enquanto documento histórico; com efeito, nele estão presentes muitos aspectos da sociedade mundana e frívola de Roma, não apenas ao nível dos relacionamentos e da beleza, mas também no que trata a passatempos e vida quotidiana do homem e da mulher romanos.

domingo, 15 de maio de 2011

ANTÍGONA, por Sófocles

Sófocles é um dos três grandes autores de tragédias junto com Eurípides e Ésquilo e o mais bem sucedido em toda a sua vida. As suas tragédias têm a habilidade de discutir grandes temas éticos e políticos e em demonstrar a fragilidade e insegurança do ser humano.
"Antígona" é uma das tragédias mais famosas de Sófocles; tem como personagens Antígona e Ismena (que são irmãs), o Coro dos Anciãos de Tebas, Creonte (tio das irmãs), um Guarda, Hémon (filho de Creonte e noivo de Antígona), Tirésias, dois Mensageiros e Eurídice (esposa de Creonte).
Os dois filhos varões de Édipo envolveram-se numa guerra fraticida que culminou com a morte de ambos. Ao trono ascende Creonte, o herdeiro mais próximo e que toma uma atitude de rei tirânico; a par disso, ordena que se enterre o trono do sobrinho que deveria ter sido rei com todas as mordomias e quanto ao outro irmão, o atacante, decreta que este deverá ser deixado ao relento e comido pelos animais selvagens como qualquer traidor mereceria, jurando pena de morte a quem desobedeça à lei e lhe ouse prestar serviços fúnebres.
Antíngona, a mais resoluta das irmãs, é fiel ao seu irmão morto e ousa dar-lhe um enterro digno; contudo, é apanhada e condenada à morte, sendo enterrada viva. Hémon suicida-se junto do corpo de Antígona com o desgosto, bem como Eurídice, que não suporta a morte do filho.
Nesta tragédia é possível ver ideais bem definidos de Sófocles tais como a defesa do perdão em detrimento do ódio, um enaltecimento da vontade feminina e a rejeição da tirania num Estado servindo, a meu ver, também como uma crítica social. Para mais, apesar do título da tragédia, Antígona não me parece ser a personagem principal da peça, mas sim Creonte; com efeito, é a única personagem constante e que decide o destino das demais. Julgo que Sófocles nomeou a peça com o nome de Antígona, na realidade, por esta ser a personagem que dá origem à problemática e, por isso, a mais dramática; de resto, cerca de metade da peça não conta com a sua presença.

sábado, 14 de maio de 2011

ÍON, por Platão

De novo Platão apresenta-nos um diálogo de Sócrates, desta vez travado com o rapsodo Íon, ou seja, alguém que, sem acompanhamento musical, recitava poemas de que não era autor. Este diálogo coloca a questão sobre a origem da criação poética, se será o resultado da arte ou da inspiração divina.

quarta-feira, 11 de maio de 2011

TEORIA DO AMOR, por Platão

Este livro, como muitos outros de Platão, consiste da redacção de um diálogo entre o seu mestre Sócrates e Diotima de Mantinea, filósofa e sacerdotisa grega e cuja filosofia está na origem do conceito platónico de amor. No diálogo, Diotima tem a função de explicar a natureza do amor a Sócrates, bem como a sua relação com o bem e a beleza.

terça-feira, 10 de maio de 2011

HIPÓLITO, por Eurípides

Eurípides, junto com Sófocles e Ésquilo, é um dos maiores autores de tragédias da Antiga Grécia; aliás, as tragédias de Eurípides são consideradas o protótipo das tragédias actuais.
Afrodite, deusa do amor e da beleza e uma das mais poderosas das deusas, tem raiva a Hipólito, filho de Teseu, por este resistir às tentações da carne, optando por venerar Ártemis, deusa da caça e da castidade. Furiosa, faz com que a sua madrasta Fedra, irmã de Ariane que Teseu abandonou em Naxos, se apaixone loucamente pelo enteado, esperando com isto punir Hipólito pela sua resistência aos encantos do amor. Assim, Fedra vê-se atormentada pela sua paixão impossível pelo filho do seu marido, acabando por confidenciar à sua ama a sua angústia; esta, preocupada com a sua senhora, confessa tudo a Hipólito que, horrorizado, não acredita. Fedra ouve a confissão e não aguenta a vergonha, acabando por se enforcar; contudo, para morrer honradamente, antes escreve uma confissão endereçada a Teseu na qual conta que se matara por não aguentar a vergonha de Hipólito a ter violado. Ao regressar a casa, Teseu lê a carta da esposa morta e pune Hipólito, expulsando-o da cidade e invocando o deus Poseídon, seu pai, para que lhe lançasse uma calamidade, que não tarda a acontecer, visto que Hipólito é mortalmente ferido pelos seus cavalos descontrolados quando saía da cidade. Os seus servos carregam o corpo do moribundo Hipólito a casa e é então que surge Ártemis que conta a Teseu do plano de Afrodite e da mentira de Fedra, contudo se a condenar, pois esta havia sido vítima de uma deusa. Teseu, compreendendo tudo, segura o corpo do filho em agonia; Hipólito perdoa-o, pois tinham sido todos vítimas de Afrodite e expira nos braços de seu pai.

segunda-feira, 9 de maio de 2011

APOLOGIA DE SÓCRATES, por Platão

O livro "Apologia de Sócrates" consiste na redacção por Platão da brilhante defesa do filósofo Sócrates aquando o seu julgamento. Todo o livro é um monólogo que visa demonstrar o erro dos seus juízes ao condená-lo à morte através do uso da lógica e contraposição das acusações pelo próprio Sócrates. No fim da sua brilhante defesa o tribunal fica dividido e, aquando os votos sobre se o filósofo deveria ou não ser condenado, os resultados mostraram uma grande indecisão por parte da população ateniense; contudo, ganhou o voto da acusação apenas por alguns elementos. Perante isto, Sócrates condena os seus juízes e perdoa os que votaram a seu favor, sem se esquecer de lançar a ira dos deuses sobre aqueles que injustamente o condenaram. Na prisão, Sócrates ainda é tentado pelo seu discípulo Críton a fugir à morte certa; contudo, fiel ao veredicto ateniense, Sócrates opta por morrer com honra a viver segundo um criminoso, pelo que acaba por ser envenenado com cicuta no dia seguinte ao do julgamento.