segunda-feira, 12 de março de 2012

DIÁLOGO SOBRE A JUSTIÇA, por Platão

Tenho estado mal de tempo para actualizar o blogue; e, nos espaços que me sobram, leio para descansar mas até agora não tive cabeça para cá voltar. Contudo, desde a ultima actualização a 2 de Março do presente ano li mais três livros e estou a meio de um quarto que procurarei apresentar. Este é um deles.
Sei que vai parecer um cliché; efectivamente, já o tinha dito do "Ménon" mas lá está, as coisas estão sujeitas a mudança quando se conhecem novas e o "Ménon" foi destronado e passou a ser este o melhor diálogo de Platão que já li. Não apenas pela temática (o "Ménon" é um pouco vago de assunto) como também por três novidades para mim: pela primeira vez vi discurso indirecto num diálogo de Platão, ou seja, vi texto narrativo, sem ser dialogado, pela primeira vez li uma discussão acesa entre Sócrates e um sofista, Trasímaco, que primava pelo tom agressivo e pela primeira vez não foi Sócrates que teve a última palavra e sim um dos assistentes da discussão, Gláucone. 
O diálogo começa com um jantar em casa de amigos e no qual participava Trasímaco, um sofista, que acusa Sócrates de ser um manhoso e um falso que apenas fazia perguntas mas a nada respondia. Sócrates, então, aceita o desafio: neste diálogo, é Trasímaco quem questiona com o objectivo de denegrir Sócrates e este responde; eventualmente trocam de posições num confronto aceso de pergunta-resposta sobre a temática da Justiça, o que seria e quem seria o justo. São visíveis as tentativas de fuga de Trasímaco quando vê em vários momentos que está a ser vencido, tanto que os assistentes têm que o segurar para que ele ganhe coragem e acabe o que começou. Assim, pergunta atrás de pergunta, resposta atrás de resposta e de vez em quando insulto atrás de insulto Sócrates e Trasímaco lutam pelo seu ponto de vista, uma luta que mais não é que um símbolo da barreira entre um filósofo e um sofista, sendo os sofistas tinham má fama na altura por cobrarem dinheiro aos alunos pelos seus ensinamentos que mais não eram, para muitos, que falsa erudição. Contudo, o grande vencedor da noite é Gláucone, um dos assistentes; uma vez ido Trasímaco e acabada a discussão, Gláucone, que mais não fizera que escutar e analisar em silêncio os argumentos das duas posições, profere um discurso sobre a Justiça a Sócrates, no qual expõe as grandes conclusões que tirou. Assim, num rasgo de sabedoria, contudo tendo o cuidado de não incutir ao leitor nenhuma verdade absoluta, Gláucone encerra o diálogo.