segunda-feira, 21 de julho de 2014

DA VELHICE, por Cícero

Esta obra, mais que um tratado, afigura-se a um ensaio de oratória. Tendo como tema a velhice, o livro consiste num diálogo entre três personagens (Marco Pórcio Catão, Caio Lélio e Cipião Emiliano) e durante o qual são refutadas as quatro objecções tradicionalmente feitas à velhice: a de que a velhice afasta os homens dos negócios; que enfraquece o corpo; que suprime todos os prazeres da vida e que aproxima o homem da morte. Estes quatro preceitos vão ser engenhosamente contrapostos por Marco Pórcio Catão que, através de uma argumentação lógica, consegue provar o quão infundados são os obstáculos que a velhice carrega. 
A pesar de ter sido escrita no ano 44 da nossa era (um ano antes da morte do autor), esta é uma obra que mostra o quão irredutíveis são algumas características básicas do espírito humano (neste caso, a persistência entre associar a velhice à incapacidade ou morte em vida) que são comuns a todas as eras. Este não é um livro para os velhos, que esses já possuem a sabedoria que alcança o conteúdo destas páginas e sim para os novos. É necessário desmistificar a velhice num mundo que se agarra à juventude como sendo a única virtude pela qual vale a pena sacrificar tudo (quão paradoxal é que todos queiramos chegar a velhos mas ninguém queira ser velho!...) A pele enrugada manchada pelo tempo e uma farta cabeleira branca, que deveriam ser augúrio de uma vida próspera e feliz, são o motivo de vergonha de muitos dos que alcançam a sorte de envelhecer. Contudo, acredito que nas próximas décadas algo terá invariavelmente que mudar: numa sociedade também cada vez ais envelhecida, cedo as camadas mais velhas do núcleo social ocuparão uma posição que fará jus ao verdadeiro significado da velhice.