sexta-feira, 4 de novembro de 2011

REI ÉDIPO, por Sófocles

Do mesmo autor de "Antígona" apresento hoje a tragédia "Rei Édipo" que, de certa forma, vem na precedência da anterior. Se "Antígona" é o suplício da filha de Édipo, condenada pela sociedade por defender a dignidade dos seus irmãos e por ser filha do seu pai que teve uma relação incestuosa com a sua mãe, "Rei Édipo" centra-se no momento derradeiro em que Édipo descobre a verdade: que matou o seu pai biológico sem o saber e que casou com a sua mãe, a rainha Jocasta. Desgostoso com a sua sina, decide cegar-se e errar pelo mundo, exilando-se apenas acompanhado pela sua filha Antígona.
Apesar de se centrar no momento da verdade, esta tragédia insere uma narrativa dentro da principal. Nela ficamos a conhecer as origens deste rei, desde que foi condenado à morte em recém-nascido até ao seu exílio. Mandado matar pela sua mãe, a rainha Jocasta, por um oráculo haver previsto que o recém-nascido mataria o seu pai e casaria com a sua mãe, Édipo é salvo por um pastor que o entrega ao rei de Corinto para que o eduque. Já adulto, tem conhecimento da profecia e, não sabendo que o rei de Corinto não é o seu pai biológico e temendo matá-lo, foge para Tebas; no caminho é surpreendido por uma caravana onde seguia um homem que, por Édipo não haver recuado à sua passagem, mandou que o espacassem. Édipo derrotou os soldados e matou o viajante da caravana, sem saber que se tratava do seu pai biológico. Já na entrada de Tebas é surpreendido por uma esfinge que atemorizava todos os que passassem pela região e que matava aqueles que não respondessem correctamente às suas charadas. Édipo mostrou-se bem sucedido em todas e derrotou o monstro, que se lançou num desfiladeiro. Como prémio pela sua ousadia e visto que o rei havia sido assassinado, Édipo casa-se com a rainha Jocasta, ignorando que se casava com a sua mãe biológica.
"Quem matou Laio?" Esta é a pergunta presente em toda a tragédia, uma vez que os deuses, desgostosos com a relação incestuosa do governante de Tebas, cobrem a cidade com toda a espécie de pragas. A multidão está furiosa e quer matar o assassino de Laio, pois só assim os deuses perdoarão a cidade. Assim, evidência atrás de evidência, memória atrás de memória, Édipo vai acabando por descobrir as suas verdadeiras origens enquanto procura o assassino para responder ao apelo da população. A peça é dotada de um dramatismo crescente, verdadeiramente apoteótico aquando o momento da verdade. Como sempre soube fazer em todas as suas tragédias, Sófocles consegue auferir às personagens características puramente humanas, quer através das reacções, quer através das mentalidades e quer através do discurso, mas sem nunca perder a solenidade, o que, pessoalmente, faz dele o meu dramaturgo grego preferido. Em Sófocles, o ideal tradicional de divinização das personagens e a separação da personagem boa e da personagem má nunca é verificável. Assim, deixo-vos com o conselho de ler esta obra intemporal de uma das mais famosas narrativas clássicas que pretendem mostrar que o homem não consegue fugir ao seu Destino... 

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